Título Original: Uma praça em Antuérpia
Autor: Luize Valente
Editora: Saída de Emergência
Sinopse: Há uma saga que ainda
não foi contada sobre a Segunda Guerra Mundial: a história de duas irmãs
portuguesas, Olívia e Clarice. Olívia casa-se com um português e vai
para o Brasil. Clarice casa-se com um alemão judeu e vai morar em
Antuérpia, na Bélgica. Ambas vivem felizes, com maridos e filhos, até
que a guerra começa e a Bélgica é invadida.
Para escapar da sombra
nazi que vai devorando a Europa, a família de Clarice conta com a ajuda
de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que salvou milhares de vidas
emitindo vistos para Portugal, em 1940, enquanto atuou em Bordéus,
França. A família recebe o visto mas, ao chegar à fronteira de Portugal,
um destino trágico a espera... Destino que vai mudar e marcar a vida
das irmãs para sempre, por causa de um segredo que só será revelado
sessenta anos depois.
A minha opinião:
Quando peguei neste livro confesso que o fiz apenas baseada na capa, que acho LINDA, e no título por soar a romance, que era mesmo o que eu estava a precisar - uma leitura ligeira.
Eis que quando o abro, se inicia com uma citação de Aristides Sousa Mendes e o meu primeiro pensamento foi - Oh não, acabei de ler um livro brilhante cujo tema de fundo é a Segunda Guerra Mundial e agora vou ler outro de seguida! Tem tudo para correr mal pois, inevitavelmente, vou estar sempre a fazer comparações e a fasquia está muito, muito elevada!
Deste modo iniciei a leitura com as expectativas baixas, com a certeza de que ia ler mais do mesmo, cliché atrás de cliché.
E não podia estar mais enganada! Luize Valente sabe prender-nos como ninguém. Lança-nos uma "bomba" logo ao início do livro que, se não fosse a sua capacidade brilhante de captar o leitor, teria tudo para correr mal pois ficamos, desde logo, a saber qual será o desfecho da história.
O livro começa no dia 1 de Janeiro de 2000, no Rio de Janeiro, com Olívia, uma idosa de
80 anos que, ainda a sofrer com a perda recente do seu filho, decide contar à neta (também ela a sofrer com mais um aborto espontâneo) o seu maior segredo que
guarda só para ela há 60 anos.
Spoilers, pensamos nós, MAS, apesar de a autora nos dar a saber logo à partida quem morre e quem sobrevive, o que é certo é que
o enredo não poderia ser mais viciante e cativante.
Olívia leva-nos numa viagem ao passado, começando a contar a sua história de vida precisamente desde o início, isto é, desde a gravidez da sua mãe, em Guimarães no início do século XX, a qual faleceu após o seu nascimento e da sua irmã gémea, levando ao consequente afastamento do seu pai que, por tanto amar a mulher, as culpabiliza pela sua morte. Deste modo, acabam por ser criadas pela avó.
E assim se desenrola toda uma história de vida relativamente pacata, que se torna mais atribulada a partir do momento em que a sua avó morre levando-a a mudar-se para junto da irmã em Lisboa, onde se apaixona por Theodor à primeira vista, um judeu comunista fugido da Alemanha, e engravida dele. A força do destino
(ou do regime político existente na altura) levou a que, sem marido e grávida, se refugiasse na Guarda. Até ao dia em que Theodor regressa para fugirem juntos para Antuérpia visto que, por ser comunista, tem de fugir de Portugal.
E é aqui que a maior parte da ação se desenrola. Após um curto período de grande felicidade, de repente têm de largar tudo o que construíram e fugir, sem nada, devido ao domínio crescente Nazista. O objetivo é conseguirem chegar a Portugal de onde podem partir para o Brasil onde o marido da sua irmã os espera, mas para tal têm de conseguir chegar a França primeiro para tratar da papelada necessária e ainda atravessar Espanha. E isto tudo grávida de 8 meses, com Bernardo de 3 anos nos braços e sempre debaixo de bombardeamentos, com ataques atrás de ataques que destroem tudo à sua passagem.
É esta azáfama que vivemos com os personagens como se nós mesmos lá
estivéssemos, sempre com o coração nas
mãos sabendo que a qualquer altura algo vai correr mal mas sem saber em que momento. A
autora consegue-nos deixar sempre com a esperança de que vai haver um final feliz. Afinal, depois de tanta tormenta a bonança é mais do que merecida.
E eu queria saber sempre mais, acompanhar Olívia (ou será Clarice?) nas suas aventuras e desventuras, lutar com ela, rir com ela e chorar com ela. E sofri com ela. Aquela angústia no peito devido a tantas injustiças e eu mera espectadora, sem poder fazer nada, é indescritível.
É portanto um livro impossível de largar pois nós estamos lá, estamos a viver aquele momento, todas as dores, todos os medos, todos os esforços inimagináveis, nós estamos a vivê-los. E foi assim que Luize Valente me deixou acordada noite fora, com apenas 3 horas dormidas, mas por um final que valeu por tudo!
Não conhecia a autora mas fiquei sua fã. Um livro escrito como ninguém, que nos prende do início ao fim e com um final... Que final! Aconselho vivamente!
5 estrelas gigantes para este livro!
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